quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Neoliberalismo, Corrupção e Crise

NEOLIBERALISMO, CORRUPÇÃO E CRISE
em Farol da Nossa Terra
Terça-feira, 2 Novembro 2010
por Hélio Bernardo Lopes
http://www.faroldanossaterra.net/neoliberalismo-corrupcao-e-crise/

Quando hoje se fala, ou escreve, sobre o estado em que Portugal se encontra, há sempre duas palavras que surgem a terreiro: crise e corrupção. Invariavelmente, tanto nas conversas correntes, como, sobretudo, nos comentários e nas análises dos canais televisivos, nunca se fala na histórica causa do que se está a passar, (quase) por todo o Mundo, e que é a aplicação do modelo neoliberal. Uma causa cujas consequências, desde sempre conhecidas, são a pobreza e a má distribuição da riqueza criada por toda a coletividade.

Eu expliquei isto mesmo há uns dois anos, pouco depois de regressar de Almeida, através de um texto meu, a que dei o título, O NOSSO POÇO DE PETRÓLEO. Se acaso o descobríssemos, e ele tivesse setenta quilómetros de profundidade, constituído por uma superfície cilíndrica com diretriz determinada pela fronteira do Concelho de Lisboa, nem mesmo assim os portugueses ficariam melhor.

A razão de ser deste (natural) desfecho tem uma causa: o referido poço seria, de imediato, privatizado, com os lucros distribuídos pelos acionistas, com cada administrador a receber cem mil euros por mês, não se prosseguindo a lógica, patriótica e solidária atitude da Noruega, onde o petróleo existente no seu solo é do Estado – de todos os noruegueses, portanto –, sendo cerca de cinco por cento destinado a ajudar o Estado Social. Como teria de dar-se, eles alumiam duas vezes, com Portugal na cauda, que foi onde sempre esteve nos últimos dois séculos.

Com estas reconhecidas consequências do modelo neoliberal, sempre teria que vir a ter lugar uma perda do valor da vida, porque a mesma deixou de valer por si mesma, sendo apenas olhada à luz do que quem a tem possa possuir ou criar com valor económico.

Costumo sempre dar, nas conversas com amigos meus, este exemplo: se a prostituição constituísse um fator produtivo importante, criando riqueza de um modo fácil e garantido para quem à mesma se dedicasse, e para a própria comunidade nacional, e tudo isto sem riscos para a saúde ou para a vida de quem por ela andasse envolvido, pois, nos dias que correm, à luz da visão neoliberal, pouco teria tanta importância (económica) como a prostituição.

Nos dias que correm, se a saída da crise passasse pelos jogos de casino, ou pelas lutas de animais, ou por qualquer outra aberração, qual seria o capitalista, ou o banqueiro, ou o político, que recusaria investir em tais tristes e repugnantes iniciativas? Para se ter uma ideia da resposta, se acaso ainda se não a tem, basta recordar Bernard Maddof, bem como as centenas de correlegionários seus até hoje nunca incomodados, ou o sistema acabaria por ruir.
Com um tal modelo de organização social – o neoliberalismo –, o expectável é um desenvolvimento forte da corrupção, naturalmente protegida pelos mil e um mecanismos criados por governos realmente ligados aos grandes interesses económicos e financeiros. Aos poucos, os cidadãos do Mundo e de Estados os mais diversos, vão-se dando conta da ilusão que realmente é a dita democracia: acaba por legitimar tudo, e sempre sem a responsabilidade de quem realmente está no topo do poder. Foi assim no Iraque, é assim no Afeganistão, foi também assim com um criminoso da estirpe de Augusto Pinochet, por aí fora. Em contrapartida, com Baltazar Garzón, que é (ainda) um juiz que incomodou gente em demasia, e muito bem colocada na pirâmide social, o que se deu foi a interrupção da sua carreira, e com a possibilidade forte de ter mesmo chegado o seu fim.

A corrupção é, pois, uma naturalíssima consequência do modelo neoliberal, apresentando, contudo, facetas que variam com a cultura dos diversos povos. Simplesmente, a corrupção enfraquece o Estado, cada dia mais minimizado e fragilizado, assim acabando por criar as condições para o surgimento de crises como a de há dois anos. E essas crises, como já se percebeu – já se sabia, desde a crise dos anos trinta do século passado – não têm facilidade em ser debeladas, a não ser por via de situações excecionais, que levem a um crescimento económico absolutamente inesperado, como se deu com a crise de 1929, que só foi debelada, de facto, por via do desenvolvimento económico determinado pela Grande Guerra de 1939/1945.

(..). Convém que se não ponha de lado a História…

Sem comentários:

"Um patriota deve sempre estar pronto para defender seu país contra seu governo"
--Edward Abbey (1927-1989), escritor e ambientalista americano.

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