“Ó mar salgado quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”
- Fernando Pessoa -
A VERGONHA DO FUTEBOLPor te cruzarmos, quantas mães choraram
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”
- Fernando Pessoa -
Artigo de: tenente-coronel João José Brandão Ferreira
08/11/10
7 de Novembro dia de FC Porto x SL Benfica, chamam-lhe um “clássico”. Não se trata de um filme, uma peça de teatro, um livro, ou qualquer obra de arte, trata-se de um jogo de futebol, desporto estimável que a clubite aguda e a ambição dos homens extremou e transformou num mega negócio, que a comunicação social tornou global.
Por ele, “poucas noivas ficaram por casar, nem mães choraram, nem filhos em vão rezaram”, mas quase todos os clubes e federações se endividaram, arruinaram ou cometeram os maiores excessos, irregularidades, etc., para que fossem deles a vã glória do futebol. Amiúde com pouco claros conúbios com políticos e políticas, numa promiscuidade malsã.
Dos desregramentos, paixões, jogadas “off side”, e suspeitas de casos de corrupção activa e passiva, são-nos dado conta, diariamente, pelos abundantes “media” que tratam do assunto, especializados ou não. Aos craques do futebol quase tudo se lhes permite e ninguém se choca com os maus exemplos que de quando em vez dão, nem com os proventos milionários que se lhes oferecem numa espiral ensandecida. Perder um jogo transformou-se quase num crime de lesa Pátria…
Tudo isto é um péssimo exemplo para a sociedade que a imprensa e a rádio e a televisão ampliam “ad naseum”. Dizem que o público gosta. Eu não gosto.
Passando-se as coisas assim, medram aqui e ali os actos de violência e as situações mais deploráveis. Desta feita ficámos a saber através dos canais de TV de maior audiência, que abriram os seus noticiários com abundantes minutos sobre o “clássico”, que o autocarro do SLB teve que ser escoltado por numerosos carros e motas da PSP (mesmo assim não se livrou que lhe partissem um vidro), e se organizaram comboios especiais para levar adeptos para a Invicta escoltados por 145 polícias (!), a que se juntou um novo e amplo dispositivo policial na capital do norte a fim de escoltar e separar as claques!
As pessoas entram como gado para o estádio, são revistadas, condicionadas, etc., nas nunca devem estar sossegadas pois nunca se sabe quando levam com uma bola de golfe ou com um very light. Parece o Farwest no seu esplendor. A gente tem que assistir a isto tudo e ainda por cima pagar. Antigamente só tínhamos que aturar os treinadores de bancada, muitos deles sem nunca terem dado um chuto numa bola; agora aturamos também as perguntas meio parvas dos entrevistadores e as respostas de igual coturno dos entrevistados, ruidosos e excitados. Finaliza-se com conferências de imprensa muito concorridas onde jogadores e treinadores fazem comentários e tecem considerações inteligentíssimas. Estas cenas sucedem-se sucessivamente sem cessar.
As autoridades assistem a tudo isto impávidas e serenas, apenas preocupadas em acompanhar a onde popular (votos a quanto obrigas), sem um esforço pedagógico, sem um ar de autoridade (também se o fizessem a malta ria-se), sem ânimo para reprimir excessos e sem lei para prender vândalos.
Para cúmulo permitiram aquela cena patética e ridícula de tentar “requisitar” o Mourinho, ao Real Madrid, para orientar dois jogos da selecção e apoiaram a candidatura ibérica – essa sim, politicamente errada e grave – de organização do próximo mundial de futebol, em 2018!
Nós estamos a desclassificarmo-nos como povo adulto e evoluído e andamos à deriva, sem sequer termos clara consciência disso.
Poderão argumentar que é assim um pouco por todo o lado. Pois será, mas nem sequer me serve de consolação.
João José Brandão Ferreira
TCor/Pilav (Ref.)
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