quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A Vergonha do Futebol


“Ó mar salgado quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”
- Fernando Pessoa -
A VERGONHA DO FUTEBOL
Artigo de: tenente-coronel João José Brandão Ferreira
08/11/10

7 de Novembro dia de FC Porto x SL Benfica, chamam-lhe um “clássico”. Não se trata de um filme, uma peça de teatro, um livro, ou qualquer obra de arte, trata-se de um jogo de futebol, desporto estimável que a clubite aguda e a ambição dos homens extremou e transformou num mega negócio, que a comunicação social tornou global.
Por ele, “poucas noivas ficaram por casar, nem mães choraram, nem filhos em vão rezaram”, mas quase todos os clubes e federações se endividaram, arruinaram ou cometeram os maiores excessos, irregularidades, etc., para que fossem deles a vã glória do futebol. Amiúde com pouco claros conúbios com políticos e políticas, numa promiscuidade malsã.
Dos desregramentos, paixões, jogadas “off side”, e suspeitas de casos de corrupção activa e passiva, são-nos dado conta, diariamente, pelos abundantes “media” que tratam do assunto, especializados ou não. Aos craques do futebol quase tudo se lhes permite e ninguém se choca com os maus exemplos que de quando em vez dão, nem com os proventos milionários que se lhes oferecem numa espiral ensandecida. Perder um jogo transformou-se quase num crime de lesa Pátria…
Tudo isto é um péssimo exemplo para a sociedade que a imprensa e a rádio e a televisão ampliam “ad naseum”. Dizem que o público gosta. Eu não gosto.
Passando-se as coisas assim, medram aqui e ali os actos de violência e as situações mais deploráveis. Desta feita ficámos a saber através dos canais de TV de maior audiência, que abriram os seus noticiários com abundantes minutos sobre o “clássico”, que o autocarro do SLB teve que ser escoltado por numerosos carros e motas da PSP (mesmo assim não se livrou que lhe partissem um vidro), e se organizaram comboios especiais para levar adeptos para a Invicta escoltados por 145 polícias (!), a que se juntou um novo e amplo dispositivo policial na capital do norte a fim de escoltar e separar as claques!
As pessoas entram como gado para o estádio, são revistadas, condicionadas, etc., nas nunca devem estar sossegadas pois nunca se sabe quando levam com uma bola de golfe ou com um very light. Parece o Farwest no seu esplendor. A gente tem que assistir a isto tudo e ainda por cima pagar. Antigamente só tínhamos que aturar os treinadores de bancada, muitos deles sem nunca terem dado um chuto numa bola; agora aturamos também as perguntas meio parvas dos entrevistadores e as respostas de igual coturno dos entrevistados, ruidosos e excitados. Finaliza-se com conferências de imprensa muito concorridas onde jogadores e treinadores fazem comentários e tecem considerações inteligentíssimas. Estas cenas sucedem-se sucessivamente sem cessar.
As autoridades assistem a tudo isto impávidas e serenas, apenas preocupadas em acompanhar a onde popular (votos a quanto obrigas), sem um esforço pedagógico, sem um ar de autoridade (também se o fizessem a malta ria-se), sem ânimo para reprimir excessos e sem lei para prender vândalos.
Para cúmulo permitiram aquela cena patética e ridícula de tentar “requisitar” o Mourinho, ao Real Madrid, para orientar dois jogos da selecção e apoiaram a candidatura ibérica – essa sim, politicamente errada e grave – de organização do próximo mundial de futebol, em 2018!
Nós estamos a desclassificarmo-nos como povo adulto e evoluído e andamos à deriva, sem sequer termos clara consciência disso.
Poderão argumentar que é assim um pouco por todo o lado. Pois será, mas nem sequer me serve de consolação.

João José Brandão Ferreira
TCor/Pilav (Ref.)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Neoliberalismo, Corrupção e Crise

NEOLIBERALISMO, CORRUPÇÃO E CRISE
em Farol da Nossa Terra
Terça-feira, 2 Novembro 2010
por Hélio Bernardo Lopes
http://www.faroldanossaterra.net/neoliberalismo-corrupcao-e-crise/

Quando hoje se fala, ou escreve, sobre o estado em que Portugal se encontra, há sempre duas palavras que surgem a terreiro: crise e corrupção. Invariavelmente, tanto nas conversas correntes, como, sobretudo, nos comentários e nas análises dos canais televisivos, nunca se fala na histórica causa do que se está a passar, (quase) por todo o Mundo, e que é a aplicação do modelo neoliberal. Uma causa cujas consequências, desde sempre conhecidas, são a pobreza e a má distribuição da riqueza criada por toda a coletividade.

Eu expliquei isto mesmo há uns dois anos, pouco depois de regressar de Almeida, através de um texto meu, a que dei o título, O NOSSO POÇO DE PETRÓLEO. Se acaso o descobríssemos, e ele tivesse setenta quilómetros de profundidade, constituído por uma superfície cilíndrica com diretriz determinada pela fronteira do Concelho de Lisboa, nem mesmo assim os portugueses ficariam melhor.

A razão de ser deste (natural) desfecho tem uma causa: o referido poço seria, de imediato, privatizado, com os lucros distribuídos pelos acionistas, com cada administrador a receber cem mil euros por mês, não se prosseguindo a lógica, patriótica e solidária atitude da Noruega, onde o petróleo existente no seu solo é do Estado – de todos os noruegueses, portanto –, sendo cerca de cinco por cento destinado a ajudar o Estado Social. Como teria de dar-se, eles alumiam duas vezes, com Portugal na cauda, que foi onde sempre esteve nos últimos dois séculos.

Com estas reconhecidas consequências do modelo neoliberal, sempre teria que vir a ter lugar uma perda do valor da vida, porque a mesma deixou de valer por si mesma, sendo apenas olhada à luz do que quem a tem possa possuir ou criar com valor económico.

Costumo sempre dar, nas conversas com amigos meus, este exemplo: se a prostituição constituísse um fator produtivo importante, criando riqueza de um modo fácil e garantido para quem à mesma se dedicasse, e para a própria comunidade nacional, e tudo isto sem riscos para a saúde ou para a vida de quem por ela andasse envolvido, pois, nos dias que correm, à luz da visão neoliberal, pouco teria tanta importância (económica) como a prostituição.

Nos dias que correm, se a saída da crise passasse pelos jogos de casino, ou pelas lutas de animais, ou por qualquer outra aberração, qual seria o capitalista, ou o banqueiro, ou o político, que recusaria investir em tais tristes e repugnantes iniciativas? Para se ter uma ideia da resposta, se acaso ainda se não a tem, basta recordar Bernard Maddof, bem como as centenas de correlegionários seus até hoje nunca incomodados, ou o sistema acabaria por ruir.
Com um tal modelo de organização social – o neoliberalismo –, o expectável é um desenvolvimento forte da corrupção, naturalmente protegida pelos mil e um mecanismos criados por governos realmente ligados aos grandes interesses económicos e financeiros. Aos poucos, os cidadãos do Mundo e de Estados os mais diversos, vão-se dando conta da ilusão que realmente é a dita democracia: acaba por legitimar tudo, e sempre sem a responsabilidade de quem realmente está no topo do poder. Foi assim no Iraque, é assim no Afeganistão, foi também assim com um criminoso da estirpe de Augusto Pinochet, por aí fora. Em contrapartida, com Baltazar Garzón, que é (ainda) um juiz que incomodou gente em demasia, e muito bem colocada na pirâmide social, o que se deu foi a interrupção da sua carreira, e com a possibilidade forte de ter mesmo chegado o seu fim.

A corrupção é, pois, uma naturalíssima consequência do modelo neoliberal, apresentando, contudo, facetas que variam com a cultura dos diversos povos. Simplesmente, a corrupção enfraquece o Estado, cada dia mais minimizado e fragilizado, assim acabando por criar as condições para o surgimento de crises como a de há dois anos. E essas crises, como já se percebeu – já se sabia, desde a crise dos anos trinta do século passado – não têm facilidade em ser debeladas, a não ser por via de situações excecionais, que levem a um crescimento económico absolutamente inesperado, como se deu com a crise de 1929, que só foi debelada, de facto, por via do desenvolvimento económico determinado pela Grande Guerra de 1939/1945.

(..). Convém que se não ponha de lado a História…
"Um patriota deve sempre estar pronto para defender seu país contra seu governo"
--Edward Abbey (1927-1989), escritor e ambientalista americano.

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